*Conteúdo autorizado pelo Museu da Pessoa
Edmar José Alves é a terceira geração de caiçaras de Ilhabela. Como a maioria, migrou da pesca, ofício de seu pai, para a vela e também é do mar que tira o seu sustento. Foi depois de velejar em outros mares que tira o seu sustento.
Foi depois de velejar em outros mares que Edmar resolveu montar seu negócio. Edmar conta como foi crescer na Ilha e como é esse lugar que é seu porto-seguro, lugar onde ele escolheu para criar seus dois filhos e onde sonha em continuar vivendo.
Meu nome é Edmar José Alves, nasci dia oito de novembro de 1965, aqui mesmo em Ilhabela. O meu pai era pescador e a minha mãe, dona de casa. Depois com o tempo, quando começou a abrir as estradas em Ilhabela, meu pai começou a trabalhar na DR, que é o Departamento de Estradas e Rodagem. Ele era o responsável por abrir as estradas na Ilha. Eu achava interessante, porque eu ia de vez em quando com ele e as ruas passavam muito perto da vila, hoje, praticamente, as ruas quase dão a volta na Ilhabela, né?
Ele tinha barco de pesca na época e a gente vivia tanto da pesca como do salário que ele tinha da DR. Na infância tudo era ligado ao mar, sempre; a gente como caiçara, vivia a 50 metros do mar, eu brincava muito com canoas, caiçaras, a gente brincava de pique na água, coisas de criança, mas tudo voltado ao mar.
Para ir para a escola, o caminho não tinha asfalto, era terra, chão batido e eu me lembro que tinha uma ponte na vila, ali, que a gente passava uma ponte de madeira que eu era pequenininho e a escola tinha quatro salas de aula, só, eu achava interessante, tudo aberto, assim, sem muro, sem nada.
Quando acabou o colegial, eu optei por servir o Exército, que é uma coisa que eu tinha um sonho, não sei porque, eu acho que se tiver eu e mais uns três ou quatro caiçaras que serviram o Exército é muito pouco, porque a maioria vai tudo para a Marinha, né, que é a vocação natural e aí, foi uma experiência legal, foi uma experiência única, achei que aquilo me deixou muito mais experiente para a vida.
Então, imagina um peixe fora do mar, né? Foi uma coisa muito legal, assim, difícil num primeiro momento, mas depois muito gratificante porque você acaba enxergando um jeito da vida que eu não via antes. Quando eu voltei para o mar, eu entrei de cabeça para trabalhar como eu trabalho hoje, com embarcações.
Aí, comecei a trabalhar como marinheiro, logo depois, eu tive oportunidade de trabalhar em um barco grande, barco de 41 pés, que na década de 1984–85 era barco grande para o Brasil e aí, eu fui para a Europa, trabalhar na Europa num barco de 59 pés. Logo depois, em 1987–88, eu já tava lá e isso foi agregando conhecimento, acabei conhecendo praticamente o mediterrâneo da costa da França, Espanha, Itália todo e isso quando voltei para o Brasil em 1990, eu já voltei com uma visão de fazer com que eu montasse o meu próprio negócio.
Dali em diante, comecei a trabalhar com energia solar, comecei a trabalhar com tudo que era ligado ao barco, eu comecei a fazer, mais na área de vela, nunca na área de lancha. Com o tempo que eu comecei a passar para a lancha. O negócio começou muito aos poucos, dando um passo de cada vez, sabe, bem pequeno, até hoje eu sou pequeno, mas um passo de cada vez.
E eu sempre gostava de trabalhar com coisas diferentes, por exemplo, trabalhei com energia solar, na década de 1980, ninguém conhecia, te dando um outro exemplo, voltando para cá, para o momento agora, eu trabalho com motor a gás, que ninguém conhece, então sempre foi tentando renovar, sempre foi tentando fazer coisas diferentes que o mercado não conhece.
Então, eu trabalhei com estaleiros de grande porte, como trabalhei com estaleiros de pequenos, como a Delta Yachts, que eu comecei, eles vendiam quatro barcos por anos e eu deixei de trabalhar, eles estavam vendendo 40 barcos por ano. Então, eu sempre gostei de desafios, ligados à náutica com visão que eu tenho no momento. E por morar numa ilha, sempre muito pequeno, né, nunca dei um passo maior do que a perna.
A semana de vela é o nosso carnaval, que a gente fala, é a época que a gente ganha dinheiro com isso, porque a gente aumenta a quantidade de barco, aumenta a quantidade de pessoas, tudo ligado à náutica, né? Agora, com essa abertura da Feira Náutica vai melhorar mais ainda. Então, tudo que é ligado a náutica, pra gente, é muito bom.
Então, por isso que a temporada pra gente não é muito legal, porque não é muito ligada à náutica e sim, ligado a outras coisas, hotelaria, que também é preciso, né, Ilhabela vive disso, vive do turismo. Só que o nosso turismo é especificamente náutico. Então, a semana de vela pra gente é o top do ano.
E velejar são momentos em que você esquece da vida, isso que é velejar. O mar tem uma forca tão forte, tão grande e ligado à vela, ainda, que você acaba se desligando da vida, é um negócio assim, mágico. Continuar morando na Ilhabela sempre. E vivendo da náutica. Esse é o meu sonho. Continuar velejando, sem dúvida. Vendendo lancha e velejando, o que eu falo: eu vendo lancha para velejar!
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