*Conteúdo autorizado pelo Museu da Pessoa
Geraldo Gomes Pinna conta em seu depoimento como é ser caiçara pé-rachado ilhabelense, desde sua infância na vila, onde cresceu, brincou — sempre no mar — e estudou. Geraldo aproveitou os cursos oferecidos na cidade para conhecer várias profissões das quais escolheu a enfermagem. Geraldo acompanhou o desenvolvimento da Saúde na Ilha e contou também como foi seu mandato como vereador.
De uma família de artistas, artesãos, escultores e músicos, Geraldo conta como entrou no samba e dali para as Folias de Reis. Além disso, como bom devoto, participa com toda a família da tradicional Festa de São Benedito, sempre com muito orgulho de ser caiçara ilhabelense.
Meu nome é Geraldo Gomes Pinna. Nasci na Ilhabela, 31 de maio de 1956, exatamente na vila, no centro da cidade. [A gente] Não tinha nada programado na infância sua aqui na Ilhabela, não tinha nada para fazer, não tinha atividade extraescolar. A atividade programada era escola, acordar cedo, ir para escola, depois, chegar, almoçar e ir para a ponte, lá para o píer para tomar banho de mar, brincar de pique, o pique nosso era no mar, você nadava um atrás do outro, peguei. É o pique no mar, não era na terra.
Eu comecei aos oito anos, eu comecei a trabalhar na Santa Casa de Ilhabela, era o único hospital da cidade, né? E trabalhei lá muitos anos, quase 30 anos, quase me aposentei lá e foi uma época boa, eu vi a saúde do município crescer, né? Quando eu entrei, nem médico tinha, você que tinha que resolver tudo. Eu que tinha que resolver tudo, era o único enfermeiro da cidade. Então, eu tinha que resolver tudo que acontecia, né, não só socorrendo um aqui, ou ali. E hoje eu tô aposentado, mas eu desenvolvo a atividade de eletroencefalograma, mas uma vez por semana.
[Da Congada] Participo desde que eu lembro, desde os sete anos, né? Participo desde os sete anos. A minha família inteira participava, papai, mamãe, todos os meus irmãos, meu sobrinho, todos participam. Todos participam, a Congada vai durar bastante.
Lá em casa, foram promessas. Promessas de algumas cirurgias que foram feitas e a mamãe era devota do São Benedito, então, ela pegava na mão do São Benedito e o filho continua pegando, eu também sou apegado a São Benedito, todos nós que participamos, o nosso santo é São Benedito, né? É muito emocionante você ficar numa festa onde você encontra todos os seus amigos de infância, né, hoje de 60 a 80…
Tem gente de 80 anos e você encontra uma vez por ano. Eu e os meus irmãos, a gente toca. Nós somos tocadores da Congada, então tenho um irmão que toca marimba, que é o Gilmar, eu toco atabaque, tenho um sobrinho chamado Luiz que já tá tocando atabaque e os outros que já estão gostando, a gente vai ensinando pra não deixar morrer, porque tocar é meio complicado, né, então você tem que ir ensinando os mais novos, como eu aprendi com o seu Dadico, que era um dos maiores atabaquistas aqui da Ilhabela, ele que me ensinou a tocar, ensinou eu e o meu irmão que já faleceu, que era o Burga e a gente tocou se espelhando nele, né, ele tinha orgulho de ver a gente tocar.
Ser caiçara ilhabelense é muito bom, porque você é um privilegiado, né? Quem nasceu na Ilhabela, quem mora na Ilhabela, [com] essa natureza exuberante que nós temos aqui, você pra todo lado que olha, você vê paz, tranquilidade. Ilhabela é muito bonita, acho do país, quiçá do mundo, é uma das ilhas mais bonitas, né? Do Brasil, é umas das maiores ilhas marítimas, né? Mas é um privilégio ter nascido na Ilhabela, porque você tem tudo aqui hoje, você tem um progresso, daqui dois anos, nós teremos até faculdade, inclusive…
O desenvolvimento tá vindo rápido e é um orgulho pra gente que nasceu aqui, ver Ilhabela crescer do jeito que cresceu, a juventude tem estudo hoje, tem saúde. É complicado você falar o que é ser caiçara, igual a você perguntar o que é ser brasileiro, né? Mas eu, por exemplo, eu tenho muito orgulho de ter nascido na Ilhabela, ter vindo de uma família tradicional igual à minha e de uma família que tudo que se tem na Ilhabela hoje, carnaval, Natal, Folia de Reis, Congada, futebol, natação, tudo minha família tá incluída nisso, tudo minha família tá presente nisso.
É um orgulho para os (Pinna) ser chamado: “Estão montando uma escola de samba aqui, dá pra dar uma orientação?”, a gente vai lá, orienta, porque a gente já foi dono de duas escolas de samba, fundamos escolas de samba, hoje nós somos incluídos em Folia de Reis, que é o folclore da Ilhabela. Natação que eu faço natação, defendo a minha ilha hoje em competições. Então tudo que tem atividade que levanta o nome da Ilhabela, a minha família tá sempre presente. É orgulho pra nós…
Eu tenho orgulho de ter nascido, eu e a minha família, temos orgulho, todos são orgulhosos de carregar o nome de Ilhabela onde a gente vai, né? Tem vários lugares que eu vou, inclusive, eu tenho atividade em Ubatuba, trabalho um dia por semana lá, e lá eles me chamam de Ilhabela, porque falam: “De onde você é?” “Da Ilhabela”, então eles falam: “Ilhabela…”, de tanto eu falar o meu nome, eles me chamam de Ilhabela, Geraldo de Ilhabela.
Outro irmão, o Giba que é pintor, ele é conhecido como Giba Ilhabela, então o Gilmar que expõe pelo mundo todo as esculturas dele, é Gilmar da Ilhabela, escultor da Ilhabela. A gente, aonde vai, a gente carrega o nome da Ilhabela, né? É um orgulho muito grande pra nós ser ilhabelense.
Caiçara é quem nasce na beira da praia, né? Mas o ilhabelense, ele carrega essa bandeira dele e isso é fundamental para uma pessoa ter orgulho da sua terra, né, porque um povo sem cultura não é um povo é um amontoado de gente. Então, a gente tem esse lema na nossa família Pinna, que a gente vai estar sempre envolvido com cultura, com as tradições da nossa terra, né, não vai deixar morrer nunca, se Deus quiser.
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