Reportagem: Edson Souza e Giliard Miguel
A equipe do “Arquivo Ilhabela” pesquisou a propriedade que pertenceu à Eva Esperança, considerada uma das primeiras parteiras da cidade, cuja família foi a responsável pela presença da congada no município e pela casa que foi berço dessa tradição.
O levantamento foi necessário para a elaboração de documentos referentes às outorgas históricas, que enalteciam a importância do imóvel para o município. O local poderia ser utilizado como “Ponto Memorial” que preservaria as memórias da família de Eva Esperança e da vizinhança local.
Em junho de 2020, o jornalista e pesquisador Edson Souza visitou a casa localizada na Avenida Princesa Isabel, núm. 1357, com o fotógrafo Giliard Miguel, para fazer um registro fotográfico e analisar vestígios de sua originalidade, como descrito abaixo:
Notamos que as portas, janelas, ferrolhos e caixilhos de fechadura em madeira são originais da época da construção, na década de 1930.
A empresa que arrendou a residência priorizou a preservação da casa, instalando conduítes externos nas paredes e no forramento do telhado. O piso permaneceu o mesmo (desde a década de 1930), feito de cimento queimado.
PLANTA BAIXA DO IMÓVEL
Para
concluir a pesquisa, foi necessário localizar a planta baixa do imóvel. A
equipe do (A. I.) procurou essa mesma nas Secretarias Municipais, verificando a
documentação da casa nestas pastas, mas nada foi encontrado nos anexos. O sítio
‘web’ da prefeitura continha, entre outras coisas, o número da matrícula, área
construída, endereço, proprietário, o que poderia ser usado para criar um
inventário detalhado sobre o imóvel.
Após contato com um dos últimos inquilinos, recebemos uma planta da casa em
formato “Coreldraw”. Ele compartilhou um arquivo que estava corrompido e não
pôde ser aberto. Na sede do (A. I.) o documento foi convertido para um novo
formato que permitia sua utilização como Autocad.
Contemplando o acervo referente ao imóvel, toda a documentação referente aos
aluguéis, reformas e acréscimos realizados na casa foi doada por terceiros para
a equipe do Arquivo Ilhabela.
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Inicialmente, pesquisamos a história de “Eva Esperança”, registrada por acervos
como jornais, livros e entrevistas. Na coluna “Memória” do extinto jornal
“Latitude 23 Graus”, o jornalista Bolívar Figueiredo noticiou em março de 2005
sobre “A Eva Que Fez a Esperança Nascer em Ilhabela”.
Nas páginas do livro “Memórias de uma Ilha” de Caio Camargo (1.ª edição, São
Paulo, Editora Intermeios, 2011), há um depoimento de Maria da Silva Pinto
e Albuquerque (Izanil), uma das filhas de Eva, que partilhou com o autor,
informações sobre o seu histórico familiar.
Em 2012, Izanil recebeu a visita do jornalista Edson Souza e
compartilhou detalhes da história da família, além de fotografias de época,
para ilustrar a pesquisa do acervo. A partir do sistema do Arquivo Ilhabela,
identificamos duas entrevistas em áudio, realizadas em 2006 com as filhas
de Eva Esperança, a saber, Izanil e Licinha. Cada relatório dura
1 hora e 20 minutos.
Consultamos o setor público do município de Ilhabela para obter mais
informações sobre os acervos e entrevistas com os caiçaras realizados na época
e descobrimos que os projetos foram interrompidos. Nomeadamente, houve uma
mudança de gestão e todos os computadores antigos foram substituídos
por sobrecarga de memória e não foi feito 'backup' das máquinas, o que explica
porque do município ser carente destes registros.
O Projeto: Eva Esperança
Manifestando o desejo de salvaguarda do imóvel, a Secretaria de Cultura de Ilhabela (Gestão 2020) solicitou, além de outros estudos, cópia da pesquisa realizada pela equipe do Arquivo Ilhabela para a desapropriação da casa e criação de um “Memorial”.
A futura instalação abrigaria sessões museológicas e um espaço relacionado com
a memória de Eva Esperança e da Congada de São Benedito. Na ocasião, a equipe
do Arquivo Ilhabela colaborou com a operação, compartilhando as pesquisas para
o projeto.
O documento final revelou que a “Casa de Eva Esperança” reunia elementos
suficientes para receber a proteção e investimento da administração pública
para torná-la um monumento da cidade.
Em março de 2021, conforme nota oficial da administração pública de Ilhabela, segundo dezenas de reportagens de jornais, foi anunciado o seguinte:
(…) A Prefeitura de Ilhabela declarou como patrimônio Histórico e Cultural do município a “Casa Eva Esperança”, localizada no bairro do Perequê… O tombamento desse imóvel é importante para a criação de um roteiro Cultural e Histórico no município, além de preservação da história e o patrimônio da cidade… Esse é o primeiro tombamento realizado pela Prefeitura, que pretende tombar outros prédios de interesse municipal.
ENCERRAMENTO
(2022)
Acompanhando a tramitação, a partir do dia em que o município manifestou interesse em desapropriar o local, encerraram-se os diálogos sobre a aquisição da casa para a prefeitura, e o imóvel continuou com a iniciativa privada.
As novas lojas instaladas na propriedade descaracterizaram a casa, que perdeu o encanto caiçara, ficando apenas na memória de quem a viveu.
A equipe do Arquivo Ilhabela concluiu as pesquisas sobre a Congada, o bairro do Perequê e a família de Eva Esperança, arquivando os resultados na biblioteca da instituição.
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