*Contém Spoilers — O objetivo deste relatório foi promover a reflexão e a leitura crítica da mensagem do filme, destacando as características emergentes e percorrendo todos os tentáculos relacionados com o tema em questão. Além disso, inspirar os leitores por meio da apresentação do filme, a observação, avaliação, sensibilidade e experiência estética.
O britânico Rudyard Kipling contava aos seus filhos, histórias sobre a selva indiana. Nessas conversas, ele glorificava as regras, os perigos e os ensinamentos da selva. Em uma dessas versões, ele criou o personagem “Mowgli”, uma pessoa que seria — digamos o felizardo — em entrar na selva e conviver com os animais. Inspirado por essas versões, Kipling publicou o romance The Jungle Book em 1894.
A primeira versão para tela da obra foi intitulada Mowgli: O Menino Lobo — filmado na Califórnia, não na Índia — em 1942, produzido por Alexander Korda e dirigido por Zoltan Korda. No entanto, usar animais reais era difícil na época, então o enredo focava mais nos personagens humanos. Essa ênfase se desviava da ideologia publicada por Kipling, sobre temer a selva. No drama de 1942 a humanidade se torna a vilã da história.
Em 1967, a Disney criou uma animação de Mowgli que conquistou espectadores de todas as idades porque o ‘design’ incluía uma “versão familiar”. Os fatos! Ganhou milhões nas bilheterias em todo o mundo.
O sucesso de Mowgli levou a Disney a produzir uma segunda versão em 1994, desta vez com animais reais. Aqui a história salvou a temida sensação de perigo na selva e corresponde ao romance de Rudyard Kipling. Essa versão foi distribuída em VHS (videocassetes).
Em 1997, a MDP Worldwide e a TriStar Pictures lançaram uma adaptação intitulada As Novas Aventuras de Mowgli - The Second Jungle Book: Mowgli and Baloo - dirigido por Dee McLachlan, escrito por Matthew Horton e Bayard Johnson.
A Disney continuou a promover a história de Mowgli em 1998, publicando-a em formato digital (DVD-Vídeo). Este ano o diretor Nick Marck produziu "A História de Mowgli" - The Jungle Book: The Story of Mowgli - já em 2003, o remake "Mowgli O Menino Lobo 2" foi uma continuação do publicado em 1967.
O clássico foi revivido pela Disney em 2016 — nostalgia vende! — “O Menino Lobo” chega aos cinemas em versão live-action com efeitos CGI, dirigido por Jon Favreau (“Homem de Ferro”). Já em 2018, foi lançado “Mogli: Entre Dois Mundos”, pela Warner Bros na Netflix; com direção de Andy Serkis e roteiro por Callie Kloves.
Neste post exploraremos a versão do Mowgli em o “Livro da Selva” de 1994.
O Enredo (sinopse)
A aventura explora o romance entre Kitty e Mowgli. O menino foi separado da comitiva depois que um tigre atacou o acampamento e foi criado por animais selvagens nas florestas da Índia. Já adulto, o selvagem conhece Kitty, filha de um oficial britânico, Major Brydon, que o leva de volta ao mundo dos homens.
No entanto, ele conhece um soldado implacável, o capitão William Boone, que quer a mão de Kitty em casamento. Como se isso não bastasse, ele descobre um tesouro mítico em uma cidade perdida onde apenas Mowgli conhece o caminho.
O Livro da Selva (The Jungle Book, 1994)
The Jungle Book (título original) ou O Livro da Selva (no Brasil) é um filme americano baseado nos romances de Rudyard Kipling. No entanto, a Walt Disney Pictures, endossou o orçamento do projeto, aumentando-o de $18 para quase $30 milhões.
A aventura, dirigida por Stephen Sommers, começou em 14 de março de 1994 e terminou em 18 de julho do mesmo ano. O filme estreou no Brasil em 7 de abril de 1995. Mowgli foi o primeiro trabalho de Sommers filmado em Panavision (anamórfico). O mesmo diretor usaria esse formato em A Múmia (1999), O Retorno da Múmia (2001) e GI Joe: A Origem da Cobra (2009).
The Jungle Book (1994) é estrelado por Jason Scott Lee (Mowgli), Cary Elwes como o antagonista Capitão William Boone e Lena Headey como Kitty. Outros rostos familiares incluem Sam Neill como Coronel Geoffrey Brydon e John Cleese como Dr. Júlio Plumford.
Esta adaptação superou um problema na versão de 1942 em relação ao uso de animais durante as filmagens. De acordo com o banco de dados “IMDb”, quarenta treinadores e aproximadamente cento e cinquenta animais trabalharam no projeto “The Jungle Book”.
Ao contrário das animações de Mowgli já vistas na tela, nesta versão de 1994 os animais não falam. Embora produzida pela Disney, esta adaptação de “The Jungle Book” estranhamente não é afiliada à Disney ou ao catálogo de filmes de qualquer outro serviço de ‘streaming’.
A Cidade dos Macacos (Monkey City)
Em O Livro da Selva (1994), um grande tesouro está escondido na cidade perdida dos macacos. Um templo engolido pela selva que acaba descoberto por Mowgli, quando segue um macaco que pegou sua pulseira enquanto dormia. Chegando ao templo, ele descobre que o Eldorado é comandado por um orangotango.
A construção desta fictícia cidade perdida foi filmada em Galtaj, a cerca de 10 km de Jaipur (Jodhpur), no estado indiano de Rajastão (Rajasth). Habitado por milhares de macacos, este templo está localizado nas colinas ao redor de Jaipur. O local já foi uma rota de peregrinação para os hindus e homenageia o deus Ganesha, caracterizado pela cabeça de um elefante e corpo de homem.
Hanuman foi mencionado na trama do filme quando os soldados notaram que Mowgli segurava uma adaga que teria pertencido ao deus macaco do hinduísmo. No entanto, quando Mowgli luta contra a cobra na câmara do tesouro, a escultura dourada de Ganesha é revelada.
Naquela época, a temperatura no país estava bastante quente, e essa sensação de calor se repetiu nas últimas tomadas do filme, onde chamas foram usadas nos ‘sets’. As filmagens no Monkey Temple exigiram resistência da equipe.
As cenas dos macacos em movimento vistas no filme foram filmadas em estúdio usando o recurso de tela azul. Os animais responderam a comandos verbais e manuais dados pelos treinadores. O material foi sobreposto a cenas do Eldorado, cujos resultados deram a impressão de que o local estava repleto de animais que se moviam ao longo dos pilares e bordas do templo perdido.
O Orangotango (King Louie)
Quando Mowgli chega à cidade perdida dos macacos, ele descobre que o lugar é governado pelo Rei Louie, interpretado pelo orangotango (Lowell). Sua pulseira de diamantes, que foi levada pelo macaco, está na posse de Louie, que leva o personagem principal a câmara do tesouro. O primeiro desafio de Mowgli vem com uma cobra — a guardiã do tesouro. Ao derrotá-la, ele ganha o respeito de Louie e recupera seu bracelete.
É interessante comparar esse personagem entre as diferentes versões de Mowgli nos cinemas. Na versão original publicada por Kipling, um orangotango sonha em se tornar humano. Nos remakes da Disney, ele é retratado como um animal que quer dominar a selva. Em O Livro da Selva (1994), King Louie não mostra nenhuma ambição, pelo contrário, o orangotango parece contente em dominar aquele território.
Durante as filmagens, houve restrições logísticas aos primatas que impediram a produção de trazê-los para a Índia. Na época, Stephen Sommers filmou as cenas de King Louie em um estúdio de Los Angeles.
Nesta cena, Mowgli aprecia uma pintura num quadro e comenta com Kitty — Eu já vi esse chapéu! Se encontrar ele, diga que sei quem pegou esse chapéu — aqui ele está se referindo a coroa utilizada pelo orangotango na cidade dos macacos, revelando a grandeza do tesouro guardado naquele tempo.
A Cobra (Kaa)
Em O Livro da Selva (1994) temos animais (treinados) em quase todas as tomadas. Além do tigre Shere Khan, um dos mais temidos é a cobra que faz o papel de guarda do tesouro na cidade perdida dos macacos. No entanto, esse personagem não é real porque sua criação foi uma combinação de fantoches animatrônicos e CGI.
Nos livros, Rudyard Kipling descreve a cobra (Kaa) como uma píton indiana (Python molurus), cujo tamanho médio pode chegar a 4,5 metros. Nos filmes, a cobra é apresentada como um personagem de 9 metros, fugindo do nível de sua espécie — Que bom! O filme é ficção.
Na versão de 1994, Mowgli chama o personagem de “A Grande Cobra”, revelando que o animal não é referido pelo nome naquela adaptação.
No universo de Mowgli, o tigre é o vilão da história. No entanto, a versão Jungle Book (1994), por outro lado, apresenta Shere Khan como uma força neutra da natureza. Um animal que as pessoas temem, porém, nas edições anteriores ou posteriores ao “Livro da Selva”, notamos que ele tem uma característica completamente diferente.
Durante as filmagens das cenas do tigre, o diretor Stephen Sommers reduziu o número de pessoas no ‘set’ e enfatizou a segurança da equipe. O treinador foi essencial para a realização do trabalho. Nas cenas em que vemos Mowgli ou outro personagem frente a frente com Shere Khan, eles são filmados com uma tela azul sobreposta na montagem do filme.
No início do filme, há uma cena em que o personagem Mowgli (criança), interpretado por Sean Naegeli, segura o rabo da pantera e caminha atrás dele. Na aventura, o animal usa esse meio de comunicação para guiar o menino até um local seguro, longe do temido tigre Shere Khan.
Durante as filmagens, o treinador conduziu o animal por uma coleira. Usando o mesmo método (tela azul), capturando closes da criança e da pantera e sobrepondo as imagens na pós-produção.
As cenas com Mowgli e a pantera na fase adulta, foram filmadas com um dublê. Na parte em que o personagem principal dorme em uma árvore, o animal estava amarrado. Já nos momentos finais, a pantera desamarra Mowgli da árvore, ali o animal foi treinado para brincar com as cordas.
O Urso (Baloo)
Na cena em que Mowgli encontra o urso Baloo (filhote) preso em um tronco de árvore, o animal tenta sair do buraco e quando finalmente consegue se soltar, o público ouve um barulho alto.
Para esse efeito e reação, o diretor Stephen Sommers colocou um treinador dentro do tronco de árvore. Seu trabalho era segurar o filhote de urso e fazer parecer que ele estava lutando para sair da armadilha. Observe que o buraco na árvore foi criado com isopor e o ruído “pop” foi um efeito sonoro obtido na pós-produção.
Mais tarde, quando Baloo é baleado na floresta, o sangue é apenas obra da equipe de maquiagem, que usou um material atóxico para proteger a saúde do animal. Os bramidos do urso também são efeitos sonoros introduzidos na edição do filme.
Nas primeiras cenas do filme, enquanto a caravana avançava pela floresta, alguns dos atores atuaram ao lado de sua equipe de treinadores de animais. Os movimentos dos elefantes eram controlados por vários gestos no ‘set’. As fantasias eram leves e a pintura facial do animal era feita de material atóxico.
Durante as filmagens do filhote de lobo, o treinador coordenou o ator infantil Sean Naegeli que interpreta o jovem Mowgli para carregar o animal com segurança em seus braços. Aproximadamente catorze lobos de raça pura foram usados na produção de The Jungle Book (1994).
De acordo com o banco de dados do IMDb, o diretor Stephen Sommers queria que a cena em que Harley afunda na areia movediça parecesse “sombria e mais realista”, então a equipe cavou um buraco e o encheu com 100 galões de aveia. No entanto, o ator Ron Donachie se recusou a pular na aveia. A equipe acabou cavando outro buraco e usando métodos mais convencionais para criar a “areia movediça”.
Easter eggs são expressões utilizadas no mundo dos games, filmes e tecnologia para descrever uma referência ou algo escondido na mídia. Normalmente, o autor do mistério dá pistas a outras pessoas para encontrar o segredo.
Em O Livro da Selva (1994), dr. Plumford (John Cleese) comenta sobre a presença da cultura indiana e inglesa durante o baile no palácio britânico, dizendo que a festa tem “todas as necessidades básicas da vida”. Aqui ele acena para a famosa canção “The Bare Necessities” cantada por Baloo na adaptação de (1967).
Na mesma cena, há uma referência mais (sutil) a “I Wanna Be Like You”, que também apareceu na versão de 1967, quando Wilkins (Jason Flemyng) diz: “Mas talvez ele possa nos ensinar como os macacos dançam”.
The Jungle Book (1994) retratou cenas do quartel fictício de soldados britânicos no famoso Palácio Umaid Bhawan em Jodhpur, Rajasthan, Índia. Atualmente é uma das maiores residências particulares do mundo. Parte do palácio é administrado pela rede hoteleira Taj Hotels. Batizado em homenagem ao marajá Umaid Singh, avô do atual marajá de Jodhpur, o monumento tem 347 cômodos e é a residência principal da família real de Jodhpur.
No filme, os soldados usam uniformes com a insígnia KEOL, simbolizando sua afiliação ao regimento ‘King Edward's Own Lancers’, um regimento regular de cavalaria do Exército Indiano Britânico. Foi formado em 1921 pela fusão do 11.º King Edward's Own Lancers (Probyn's Horse) e da 12.ª Cavalaria.
A franquia de Mowgli é promovida por dois temas: “The Wolf Boy” ou “The Jungle Book”. A primeira faz jus à história de um menino criado por lobos; o outro aborda o ambiente humano-natural enfatizando as leis da selva. O Livro da Selva (1994) foi filmado em pontos turísticos e estúdios; como destacamos abaixo:
►
Fall Creek Falls State Park, Spencer, Tennessee, EUA
►
Ozone Falls, Crab Orchard, Tennessee, EUA
►
Fripp Island, Carolina do Sul, EUA
►
Beaufort, Carolina do Sul, EUA
►
Jodhpur, Rajastão, Índia
►
Galtaji, Rajastão, Índia
►
Bombaim, Índia
►
Mehboob Studios, Mumbai, Maharashtra, Índia
Nenhum comentário:
Postar um comentário